A disputa pela liderança na UNITA, entre Adalberto Costa Júnior e Rafael Massanga Savimbi, trouxe luz e barulho; reanimou conversas; devolveu urgência ao debate público. É bom sinal. Onde a competição é real, a política aprende. O ruído cansa; o exercício compensa. Num país fatigado de monólogos, a alternância de argumentos educa e fortalece.
Seria prudente um pacto de pré-campanha que proibisse insultos étnicos, raciais e regionais; quando se supunha que certos preconceitos tinham recuado, eis que regressam, ásperos e teimosos. Palavras deixam marcas; a higiene do discurso protege a comunidade e dignifica quem aspira a governá-la. A divergência cabe; a ofensa não.
Há, porém, um traço que fere o olhar: a pobreza de infraestruturas fora dos centros urbanos. Quem produz no campo não escoa; quem colhe não chega ao mercado. As caravanas de campanha cruzam o país e mostram, sem filtros, a radiografia do atraso: estradas cavadas pela chuva; pontes cansadas; lama até ao eixo.
Não basta apontar o buraco; é preciso propor remédio. Soluções práticas: rede de vias praticáveis em todas as estações, com laterita estabilizada e drenagem simples; pontes modulares de montagem rápida; brigadas de manutenção pagas por resultados, com contratos de conservação celebrados com as próprias comunidades e fiscalização pública; entrepostos de frio e pequenos centros logísticos nos eixos agrícolas; cabotagem ao longo da costa para ligar o norte aos portos; onde o rio abre caminho, volte-se ao rio. Mapas com prioridades, custos e calendários; métricas visíveis; clareza com os delegados de cada província: que obra, em que comuna, com que fiscalização, em que mês. Menos promessa, mais prazo.
As viagens e os comícios devem converter-se em exercícios de escuta com resposta imediata. Tendas de rastreio básico em cada paragem: tensão arterial, glicemia, testes rápidos de malária; recolha de sintomas dominantes; referenciação para as unidades sanitárias; identificação de focos de insalubridade; mutirões de limpeza com meios locais. Onde falha o saneamento, falar de água, latrinas e lixo; formar equipas mistas com igrejas, associações e enfermeiros da zona; demonstrar que política também é serviço.
Em paralelo, balcões móveis de registo civil e identificação: bilhete de identidade, cartão de eleitor, assentos de nascimento, actualização de moradas. Oficinas rápidas para quadros locais explicarem procedimentos, prazos e custos; dias de inscrição assistida, com listas públicas e auditoria social. Importa consagrar um direito simples e executável: qualquer cidadão, pai, mãe ou tutor de criança sem bilhete de identidade preenche no local um requerimento padrão; o partido recebe, protocola e assume o dever de acompanhar, junto das conservatórias e das autoridades competentes, o registo e a emissão do documento até à entrega final. Comprovativo imediato; prazos públicos; código único para seguimento por SMS; prioridade para menores e pessoas com deficiência; serviço gratuito e sem exigência de filiação; dados protegidos por política de privacidade afixada no posto. O que se promete escreve-se; o que se escreve cumpre-se.
Estas deslocações devem ainda servir a um programa sério de competências juvenis. Há juventude em massa; falta trabalho; sobra talento por apurar. A ala juvenil mapeia aptidões, levanta necessidades e organiza seminários curtos para elevar capacidades existentes: agroprocessamento; manutenção de equipamentos; soldadura; contabilidade prática; TIC básicas; logística; audiovisual; línguas de trabalho. Postos de competências articulados com oportunidades reais; listas de estágios e aprendizagens por sector; negociação com empresas e autoridades para a inclusão de jovens dos municípios nos projectos em curso. Assim se troca a imagem de oposição ruidosa pela condição de parceiro essencial de capital humano para o futuro económico das regiões.
Convém, além disso, erguer uma tecnocracia sombra: rede de peritos credíveis, práticos, avessos a floreios; gente capaz de ser mobilizada para governar com eficácia quando a hora chegar. Um catálogo público de especialistas por área; protocolos de ética; simulacros de desenho de políticas; relatórios curtos e verificáveis. A política ganha nervo quando a competência entra na sala.
A ponte com a diáspora deve ganhar corpo. Cartografar competências fora do país; criar programas de mentoria remota; abrir bolsas semente para micro-negócios juvenis; laboratórios virtuais onde engenheiros, médicos, gestores e criativos apoiem equipas locais em ciclos de doze semanas. Quem está longe aproxima-se com método; o conhecimento circula; o capital encontra propósito.
Nada disto dispensa um olhar para o ambiente e para a segurança das mulheres. Planos simples e fiscalizáveis: iluminação pública em rotas escolares; pontos de apoio em mercados e terminais; campanhas contra a violência; arborização de encostas; gestão de resíduos com metas mensais. Transparência como regra. Media convidados; todos os media; sessões abertas; atas publicadas; transmissões em directo; parceiros estrangeiros como observadores. A boa-fé atrai confiança; a confiança abre portas.
Do ponto de vista táctico, e do rigor que a política séria exige, a campanha oferece uma ocasião rara: construir legitimidade paralela, não por proclamação, mas por desempenho. Provar competência, transparência e utilidade cívica precisamente onde o Estado incumbente falha. A eleição interna pode converter-se numa demonstração nacional de prestação de contas; se o processo for exemplar, muda-se o centro de gravidade do debate público.
Como se faz isso? Com regras claras e verificáveis; agendas publicadas e cumpridas; contas abertas e auditorias independentes. Com comícios que são também escutas, onde as perguntas difíceis têm resposta à frente de todos. Com equipas técnicas a mapearem problemas concretos nas províncias e a apresentarem soluções mensuráveis: professores colocados; medicamentos disponíveis; estradas transitáveis; cidadãos documentados; jovens ligados a oportunidades reais. Com plataformas digitais simples que recolhem queixas, mostram métricas e devolvem relatórios semanais. Com debates que privilegiam ideias, teoria aplicada e números; não rótulos; não insultos.
Se a UNITA transformar o seu exercício interno em vitrina de ética pública e solução prática, presta um serviço maior. A conversa deixa de ser sobre quem grita e passa a ser sobre quem entrega; a pertença tribal cede ao teste de serviço; a retórica dá lugar ao método. Vence quem cuidar do bem comum; vence, sobretudo, a democracia, que cresce quando a competição se mede pelo valor que devolve à vida de cada cidadão.
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