A Virtude da Flexibilidade Política.
Uma vez em 1998, na turbulência política, o meu sogro, o Ancião, Gabriel Ernesto Kawengula “Ekongolionjala,” da família real do Reino do Bailundo, aconselhava-me o seguinte: “Uti waleñela ko fela hauteka.” Na tradução em Português, significa: «Uma árvore flexível ao vento nunca parte».
Na verdade, quando olharmos às árvores flexíveis constataremos que, quando há uma tempestade, com ventos e chuvas fortes, as árvores flexíveis vergam até ao chão, e logo, levantam-se gradualmente. Se o vento vier do outro lado, elas vergam-se do lado oposto, e quando a tempestade passar, elas voltam na posição vertical. Essa é a «virtude da flexibilidade», que resulta da lei da física, que permite vergar-se ao lado oposto do vento no sentido de equilibrar a intensidade do impacto tremendo da tempestade.
Este provérbio Umbundu vem à propósito apenas para dizer que, a UNITA passou por etapas dificílimas da sua História recente. Mas, devido a sua flexibilidade e a capacidade de resistência, ela foi capaz de vergar-se temporariamente, recuperando gradualmente a sua energia e a força anímica, e erguer-se novamente à posição vertical.
Recordo-me que, em 2002, com a morte em combate do Presidente Fundador, Dr. Jonas Malheiro Savimbi, e do Vice-Presidente Engenheiro António Sebastião Dembo, a UNITA passou durante 16 anos numa condição complexa, que na altura, o Presidente da UNITA, Dr. Isaías Henrique Ngola Samakuva, caracterizou de “engolir sapos vivos.”
Aliás, muito antes disso, no rescaldo dos Acordos de Lusaka, emergiu em Luanda, uma UNITA-RENOVADA, que colocou o Partido, fundado em Muangai, numa condição subalterna, sob a tutela do Regime. Em função disso, após a Guerra Civil, em 2002, muita gente da UNITA foi forçada a assinar documentos secretos que podem comprometer (se não houver cautela) a integridade e a soberania da UNITA.
Dizendo que, este período turbulento deve merecer um grande estudo e análise para compreender os seus meandros, que consistem tanto na vulnerabilidade e na fragilidade, quanto na flexibilidade e na firmeza dos Ideais da UNITA. Durante este período, a Filosofia Política do Doutor Jonas Malheiro Savimbi não somente manteve-se viva, firme e inabalável, mas sobretudo, serviu de «campainha» que ecoava permanentemente na consciência dos militantes do Partido.
Quando a Instituição Orgânica (UNITA) estava cativa e subordinada, a voz inspiradora do Jonas Savimbi não deixava de ressonar-se cada vez mais intensa nas mentes dos quadros e militantes da UNITA, através dos seus ensinamentos, em forma de textos escritos, de gravações, de vídeos e de registros magnéticos. Tudo isso, circulava amplamente nas cidades, nos bairros, nos musseques, nas vilas e dentro das estruturas públicas.
Em Luanda, esta movimentação popular da tomada de consciência foi intensa e extensiva, inclusive nos toques de chamadas dos tele móveis, com palavras chaves do Jonas Savimbi. A medida em que o regime tentava reprimi-lo, mas forte e mais extensiva que tornava a sua disseminação pelo país. Pois, a voz da liberdade tocava na consciência profunda das pessoas, inspirando nelas a cidadania e o espírito patriótico.
Este período transformador confundiu o regime do MPLA que não percebeu bem este fenómeno da transformação política, assente nos Ideais do Doutor Jonas Savimbi, que se enraizaram na Sociedade Angolana. Portanto, a domesticação da UNITA durante os 16 anos foi superficial, buscando a sobrevivência e a resiliência. Porque, de grosso modo, não atingiu o fundo da matriz ideológica do Partido.
Lembro-me que, o General Higino Carneiro, por diversas vezes, vinha a público afirmar que, a Direcção da UNITA estava a ser comandada por eles. Aliás, foi ao ponto de declarar que, foram eles que colocaram no poder o líder da UNITA que surgiu no rescaldo de 2002. Portanto, o MPLA estava convicto de que, a UNITA estava finalmente sob seu controlo absoluto.
Na verdade, a Liderança do MPLA não percebeu que a Alma da UNITA não reside na «superestrutura» do Partido, mas sim, na sua doutrina, nos seus ideais, na sua base social e na sua militância partidária, que são imbuídas do espírito patriótico, assente na cidadania e no nacionalismo angolano.
A UNITA não é uma aristocracia monárquica ou uma dinastia étnica cuja sucessão de liderança obedeça a uma árvore genealógica ou à descendência familiar. Pelo contrário, o que conta na UNITA é a militância, o mérito e a meritocracia, que catapultam os Quadros da UNITA dentro da hierarquia partidária.
Que seja assente, a UNITA é o Partido de massas, que congrega no seu seio todas as etnias e todos os estratos sociais do país, guiada por Princípios e Valores do “MANIFESTO DO MUANGAI,” que serve de matriz doutrinária e de fonte de inspiração do Ideário e do Projecto de Sociedade da UNITA, que passam por adaptações constantes de acordo com as transformações profundas que ocorrem na Sociedade Angolana e na Comunidade Internacional.
Para terminar, importa ressaltar o seguinte: o MPLA não se desistiu e nem se desarmou da sua estratégia tradicional de querer domesticar e instrumentalizar a UNITA. Este desiderato estratégico do MPLA é de muito tempo desde a era colonial. Pois, a UNITA tem sido uma pedra no sapato, que inviabiliza constantemente a consolidação do Partido-Estado – Monolítico. Por isso, a domesticação da UNITA é a condição sine qua non que permite transformá-la na arma de arremesso. Que isso seja claro e explícito.
Por outro lado, devemos estar cientes de que, na Estratégia Global, 2027 é uma meta estratégica, que vai determinar o futuro de Angola nos próximos tempos. O que quer dizer que, o XIV Congresso da UNITA, que já está em andamento, constitui a antecâmara desta conjuntura política.
Parafraseando, cada Congresso visa um “Objectivo Estratégico” que orienta os Membros da UNITA e os seus Congressistas nas suas deliberações e na eleição dos Órgãos Deliberativos, Directivos e Executivos. Portanto, o XIV Congresso da UNITA visa a «conquista do poder político» em 2027. Isso implica a consolidação dos instrumentos do Partido; a adaptação da estratégia global ao contexto actual; a afinação do Programa Estratégico; a integridade e a clarividência da liderança; e a estabilidade dos Órgãos do Partido.
Nesta óptica, na Guerra Civil Americana, o Presidente Abraham Lincoln afirmava que, na língua inglesa: “Don’t change horses in midstream.” Na tradução em Português, significa: «Não troque de cavalo no meio da corrente do rio». Isso quer dizer, não mude para uma Nova Estratégia ou para um Novo Líder quando estiver perante os grandes desafios, e sobretudo, quando tudo estiver a desenvolver-se bem, e numa velocidade acelerada, e com uma expectativa muito grande dentro e fora do País.
É neste contexto político reside a virtude da flexibilidade política, de saber prever os cenários globais (internos e externos) e as tempestades, de modo a estar sempre atento, preparado e equipado para enfrentar decisivamente os grandes desafios em todos os domínios. Uti waleñela ko fela hauteka. Bem-haja!
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